sábado, 14 de maio de 2016

“Exmo. Sr. Michel Temer

Prezado senhor,

Entre as grandes conquistas da identidade democrática Brasileira está a criação do Ministério da Cultura, em março de 1985, pelo então Presidente José Sarney.

É inegável que, nessa ocasião, o nome do Brasil já havia sido projetado internacionalmente através do talento de Portinari, de Oscar Niemeyer, de Anita Malfati, de Jorge Amado, da música de Ary Barroso, Dorival Caymmi, Carmen Miranda, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, do cinema de Glauber Rocha e Cacá Diegues. Desta forma, a existência do Ministério da Cultura se deve ao merecido reconhecimento do extraordinário papel que as artes brasileiras desempenharam na divulgação de um país jovem, dinâmico, acolhedor e criativo.

A extinção desse Ministério em abril de 1990 foi um dos primeiros atos do governo Collor de Mello. Abrigada em uma Secretaria vinculada à Presidência da República, a cultura nacional assistiu ao sucateamento de ideias, projetos e realizações no campo das artes. Já no final de seu governo, tentando reconquistar o apoio político perdido, o Presidente Collor adotou outra postura, nomeando para a Secretaria de Cultura o intelectual e embaixador Sergio Paulo Rouanet, encarregado de restabelecer o diálogo com a classe artística. Nasceu assim o Pronac – Programa Nacional de Apoio à Cultura, que se tornou o elemento estruturante da política cultural dos governos subsequentes, e a denominada Lei Rouanet. Felizmente o Presidente Itamar Franco, em novembro de 1992, devolveu aos criadores um Ministério que já havia comprovado o acerto de sua presença no cenário nacional.

A partir de 1999, durante o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, o Ministério da Cultura foi reorganizado e sua estrutura ampliada, para que pudesse servir a projetos importantes, em especial nas áreas de teatro e cinema. Desde então o MinC vem se ocupando, de forma proativa, das artes em geral, do folclore, do patrimônio histórico, arqueológico, artístico e cultural do País, através de uma rede de institutos como o IPHAN, a Cinemateca Brasileira, a Funarte, o IBRAM, Fundação Palmares entre muitos outros.

A partir da gestão de Gilberto Gil, o MinC ampliou o alcance de sua atuação a partir da adoção do conceito antropológico de cultura. O Programa Cultura Viva e os Pontos de Cultura são iniciativas reconhecidas e copiadas em inúmeros países do mundo. O MinC passou a atuar também com a cultura popular e de grupos marginalizados, ampliando os horizontes de uma parcela expressiva de nossa população. Foi o MinC que conseguiu criar condições para que tenhamos hoje uma indústria do audiovisual dinâmica e superavitária. O mesmo está sendo feito agora com outros campos, como por exemplo o da música.

O MinC conta hoje com vários colegiados setoriais que cobrem praticamente quase todas as áreas artísticas bem como grupos étnicos e minorias culturais do país. E com um Conselho Nacional de Políticas Culturais, formado pela sociedade civil e responsável pelo controle social da gestão do Ministério. Há ainda que se mencionar o Plano Nacional de Cultura e inúmeras outras iniciativas com amparo no texto constitucional e em leis aprovadas pelo Congresso Nacional, cuja inobservância ou descontinuidade poderão ensejar questionamentos na esfera judicial.

O MinC também protagonizou várias iniciativas que se tornaram referência no ordenamento jurídico internacional, como as Convenções da Unesco sobre Diversidade Cultural e de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial, dentre outros.

A Cultura de um País, além de sua identidade, é a sua alma. O Ministério da Cultura não é um balcão de negócios. As críticas irresponsáveis feitas à Lei Rouanet não levam em consideração que, com os mecanismos por ela criados, as artes regionais floresceram e conquistaram espaços a que antes não tinham acesso.

A Cultura é a criação do futuro e a preservação do passado. Sem a promoção e a proteção da nossa Cultura, através de um ministério que com ela se identifique e a ela se dedique, o Brasil fechará as cortinas de um grandioso palco aberto para o mundo. Se o MinC perde seu status e fica submetido a um ministério que tem outra centralidade, que, aliás, não é fácil de ser atendida, corre-se o risco de jogar fora toda uma expertise que se desenvolveu nele a respeito de, entre outras coisas, regulação de direito autoral, legislação sobre vários aspectos da internet (com o reconhecimento e o respeito de organismos internacionais especializados), proteção de patrimônio e apoio às manifestações populares.

É por tudo isso que o anunciado desaparecimento do Ministério da Cultura sob seu comando, já como Chefe da Nação, é considerado pela classe artística como um grande retrocesso. O Ministério da Cultura é o principal meio pelo qual se pode desenvolver uma situação de tolerância e de respeito às diferenças, algo fundamental para o momento que o país atravessa.

A economia que supostamente se conseguiria extinguindo a estrutura do Ministério da Cultura, ou encolhendo-o a uma secretaria do MEC é pífia e não justifica o enorme prejuízo que causará para todos que são atendidos no país pelas políticas culturais do Ministério. Além disso, mediante políticas adequadas, a cultura brasileira está destinada a ser uma fonte permanente de desenvolvimento e de riquezas econômicas para o País.

Nós, que fazemos da nossa a alma desse País, desejamos que o Brasil saiba redimensionar sua imensa capacidade de gerar recursos para educação, saúde, segurança e para todos os projetos sociais e econômicos necessários ao crescimento da nação sem que se sacrifique um dos seus maiores patrimônios: a nossa Cultura.

Em representação da Associação Procure Saber e do GAP–Grupo de Ação Parlamentar Pró- Música.”

domingo, 10 de abril de 2016

Por que Plácido Domingo no “Amazônia Live Rock in Rio?
Por Everaldo Barbosa – Tenor da Floresta
 


Ao ter acesso às noticias veiculadas das mais variadas fontes a respeito do Amazônia Live – Rock in Rio, sobre a vinda a Manaus do tenor espanhol Plácido Domingo, a minha primeira reação foi a de fazer exatamente este questionamento: Por que Plácido Domingo? Por que não Andrea Bocceli, que tem um estilo mais pop, ou por que não Richard Bauer, nosso grande tenor brasileiro, ou Juan Diego Florez, tenor peruano com excelentes agudos, ou o tenor Rolando Villazón considerado um dos melhores da atualidade, ou Michael Hendrick, que interpretou exuberantemente Sansão e Dalila no Festival Amazonas de Opera? Enfim, poderia ficar aqui discorrendo vários nomes da mais alta competência em representar muito bem o canto lírico mundial. Porem, para a proposta do evento em voga, que é a de fazer um alerta ao mundo, sobre os efeitos causadores do aquecimento global e de uma campanha pela preservação da floresta, que alias, diga-se de passagem, temos mantido a nossa floresta intacta em se comparando com o resto do mundo, ninguém melhor que o tenor Plácido Domingo, que dedicou parte de sua carreira em causas humanitarias, arrecadando milhões, com seus concertos beneficentes, para ajudar às vitimas do trágico terremoto no México que aconteceu em 1985, e às vitimas do furacão Catrina, em Nova Orleans, etc. Portanto, ouvir a voz de Plácido Domingo de perto, ecoando em meio a exuberante floresta amazônica, trazendo a grandeza do Canto Lírico, será um presente a ser compartilhado por todos nos, homens da floresta.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Vida e Entrevero: Não conheça Manaus

Vida e Entrevero: Não conheça Manaus: Dizem que conselho se fosse bom se vendia, mas ao longo da vida vamos juntando bagagens que queremos compartilhar. Em função de muit...

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Fisioterapia e o canto – o corpo do cantor

Por Carolina Valverde
Fonte: Jornal Musical - Sindmusi/RJ


Continuando nossa conversa sobre a saúde do cantor, nessa edição, resolvi falar um pouco sobre o canto pelo olhar da Fisioterapia. Muitos cantores me perguntam se eu também atendo cantores no meu consultório, pois quando ouvem falar de Fisioterapia para músicos pensam logo nos instrumentistas. Talvez por causa dos movimentos repetitivos e da sustentação do instrumento. Quando falamos em saúde do cantor tendemos a pensar em profissionais como fonoaudiólogos e otorrinos como os únicos responsáveis
pelo atendimento e acompanhamento de problemas relacionados a performance do canto. Porém, o fisioterapeuta trata de muitos aspectos neste sentido. Um exemplo muito interessante que tenho é de uma cantora lírica que procurou o consultório com queixas de vertigem, falta de ar na hora da performance do
canto e dificuldade de chegar em algumas notas agudas. Durante a avaliação em performance pude observar dois padrões corporais muito claros: hiperextensão de joelhos e retificação de coluna cervical. Após a conscientização da cantora e tratamento, os sintomas desapareceram. Uma relação anatômica muito importante que diz da importância de utilizarmos o conhecimento de todo o funcionamento do aparelho ortopédico para compreender os problemas corporais dos cantores é, por exemplo, o fato dos pilares que saem do diafragma serem inseridos na coluna lombar. Essa relação anatômica faz com que haja uma dependência direta entre postura e respiração, o que interfere, necessariamente no canto. Além disso, existem muitas outras relações entre o canto e o corpo do cantor. Por isso, além das aulas teóricas e práticas na Escola de Música da UEMG, onde tenho muitos alunos cantores, estou desenvolvendo uma pesquisa para a construção de um workshop teórico/prático que, a princípio, será oferecido às cidades de MG, próximas de Belo Horizonte. Conto, neste trabalho, com a ajuda de Helen Isolani, soprano e bacharelanda em canto, interessada em educação musical e saúde do cantor. Para ilustrar a nossa conversa, elaborei algumas perguntas para que Helen nos mostre um pouco de sua prática como cantora no que diz respeito aos problemas corporais relacionados à prática do canto. Vejamos o que ela nos conta.

Você tem queixas corporais relacionadas a sua performance de canto? Quais?
Sim, tenho queixas. Após a performance sinto dores lombares e no meio das costas. Na verdade, a maioria dos cantores sentem dores nestes locais, pois nas costas (final da torácica) há inserção posterior do diafragma músculo que é essencial para a técnica do canto, onde não há respiração torácica e sim diafragmática. Os pilares diafragmáticos se inserem na região lombar. Ainda submeto-me a tratamento
também na região cervical e trapézios pela super- ativação dos respiratórios acessórios. Pode acontecer cefaléias advindas da tensão cervical.

Você consegue relacioná-las diretamente com sua prática?
Sim. Depende da performance, do tempo da performance (duração), do figurino, do sapato, do nível
de dificuldade do repertório, da temperatura, da acústica, do meu relaxamento (ou cansaço), do meu estado interno (estabilidade emocional) e, enfim, questões humanas e ergonômicas interferindo em todo o processo de performance musical. Não é bom cantar sentado. Mas, se tem de cantar em pé é importante estar bem apoiado (pelos pés) e com uma roupa que não incomode (não seja apertada). Para uma performance, de canto erudito, de uma hora (por exemplo) é importante se acostumar com o repertório, fazer exercícios musculares e alongamentos para que haja sustentação para esta prática, incluindo exercícios físicos regulares.

As dores nas costas estão relacionadas com a respiração e pelos movimentos diafragmáticos. O tipo de roupa e sapato pode influenciar seu bem estar corporal durante e após a performance?
Bem, como disse na resposta anterior, as roupas e sapatos influenciam demais na performance. Um
sapato que influencia positivamente na prática do canto é o tênis: feito para atleta, anatômico, tem amortecedores, preparado para a corrida, te proporciona segurança. Mas, quase sempre, não podemos fazer performance de tênis. Então, temos de acostumar com o sapato do dia da performance. Ensaiar com ele. Encontrar segurança. Pernas e pés são extremamente importantes para a prática do canto, pois são bases e sustentação. Se é uma performance que também é teatral como a ópera, além do canto há movimento cênico. Assim, é preciso praticar sempre esta movimentação para que o corpo se acostume e tenha segurança em cena. Quanto a roupa, ela tem de deixar você a vontade para o movimento. Principalmente nas costas. Geralmente os figurinos são personalizados: o figurinista faz a roupa de acordo com o cantor, levando em consideração questões corporais, o personagem (que o cantor interpretará) e o que se fará em cena.

Quais ações você vê como essenciais para a saúde corporal do cantor?
Como cantora, educadora musical eu levo em consideração todas as questões citadas acima. A voz pertence ao corpo. Cuidar da voz é cuidar bem de si mesmo. No mais, o de sempre: dormir (muito!),
beber muita água, estudar muito, alongar e ser feliz.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

80 anos dedicados a família - 8 de outubro de 1933














Hoje quero prestar minha singela homenagem a esta pessoa que sempre foi a minha referencia e o meu exemplo de vida -  o Sr. Manuel Régis Barbosa, o meu paizão.

Quando relembro de sua historia de vida, contada por ele, de muito sofrimento e privações passados por ele e sua mãe. A historia dos punhos de rede, que eram cortados quando sua mãe estava na rede, ou a de jogar água para acordar, estando o senhor e a sua mãe ainda estavam dormindo, é de cortar o coração de quão perversas são as pessoas.  Mesmo com todas estas atitudes e palavras de derrota e desestimulo por seus familiares, o senhor usou isso ao seu favor para superar todos os obstáculos da vida e chegar a ser a pessoa que é hoje.

Com humildade e simplicidade foi transpondo os maiores e menores obstáculos que vida lhe impôs, já foi picolezeiro, engraxate,  oficeboy, pedreiro, carpinteiro etc. Foi aprovado numa unica vaga na companhia de energia eletrica do Amazonas, celetramazon, estudou edificações, foi mestre de obras, comerciante nato, abriu as lojas Arcom - Arquitetura e Construção Ltda, a RECMAT - Régis Materiais de Construção Ltda e a Construtora Régis Barbosa Ltda, dirigindo com afinco, tornando-se proeminente empresario no ramo da construção civil na cidade de Manaus. Construindo a nova sede da Missão Central Amazonas, o templo da Igreja Central de Manaus, as lojas NEMO dos indianos na Zona Franca de Manaus, a cobertura do Banco do Brasil no centro de Manaus dentre outras que me fogem a memoria agora. Nas nossas andanças nos canteiros de obras, lembro-me de qual exigente era o senhor quando algo não estava feito com o devido esmero e perfeição. O senhor ordenava que a obra fosse desfeita e refeita. Aprendi com o senhor que pedreiros não gostam de usar o prumo. Nestes seus 80 anos, quero rememorar alguns termos que me acompanham ate hoje, são estes: "Caboco suburucu, popa de lancha, bandeira azul"; " Quem é coxo, parte cedo"; E para a gente acordar de manhã, o senhor ja chegava gritando - "Padeeeiro!"; e outra, "acorda p'ra cuspir"  "...sofre mais que sovaco de aleijado"; Mais feia que justiça de tefé..., entre outras.

Portanto meu pai, eu só tenho a agradecer pois o que eu me tornei hoje é graças ao senhor e a minha mãe que não mediram esforços para dar do bom e do melhor para mim, dar educação para 7 filhos, amor, dedicação e manutenção, tanto no aspecto material como no espiritual. Feliz Aniversário e que Deus continue lhe dando saúde e toda essa disposição de sempre. O senhor é o exemplo de pai, cidadão politizado, de honestidade e perseverança.